30% DOS HOMENS DIZEM TER POUCO TESÃO
PESQUISAS
Somos induzidos a acreditar que 1. homens desejam sexo vinte-quatro-horas-por-dia-sete-vezes-por-semana; 2. trocam qualquer coisa por uma trepadinha básica; 3. nunca dizem “hoje não”. Se o cidadão nega fogo, vixe, “aí tem”. É gay. É brocha. Tem outra. Ou a mulher assume a culpa. Tô gorda. Tô chata. Não sei fazer boquete direito. Ah, não é normal, coisa rara. A gente meio que pensa assim… Daí vem uma pesquisa e pá na nossa cara: três em cada dez brasileiros (30,9%) afirmam ter baixa libido – ou seja, pouco tesão. E não é qualquer pesquisa, não.
Conduzida pela psiquiatra Carmita Abdo, do Prosex-USP, a Mosaico Brasil 2.0 ouviu três mil pessoas entre 18 e 70 anos. “Não se fazem homens como antigamente”, vão comentar no boteco. Será que as gerações anteriores “davam mais no coro”? Ou transavam, mesmo vontade, pra “não levantar suspeitas”? Ou viviam o mesmo drama, só que sem liberdade para admitir abertamente? Tenho a impressão de que os boys de hoje começaram a entender que não querer sexo NÃO põe em dúvida a virilidade. Apesar do tabu, viram pro lado e dormem.
Mas, me parece, ainda sofrem com isso. Porque “apenas” estar cansado ou deprimido “não é motivo suficiente” aos olhos do mundo. Se você tem um pau, amigo, espera-se que ele viva duro e que a iniciativa para o sexo seja sempre sua. O que é uma bobagem cruel. Preferir partidas de videogame à uma bunda de quatro pode ser uma fase de profundo desânimo profissional, de problemas financeiros, de preocupações familiares, de tretas infinitas com a (o) parceira (o) ou puro tédio. Especialmente em relações estáveis, quando o outro vai estar ali amanhã e depois de amanhã – caso você não esteja interessado hoje.
Além da estafa física e mental, existe uma porrada de fatores orgânicos que afetam a libido dos homens. Tipo doenças como diabetes e hipertensão, andropausa (equivalente à menopausa, o corpo diminui a produção de testosterona a partir dos 50 anos), uso de calmantes e outros remédios, beber muito, fumar… Se o cara sofrer de disfunções sexuais, como dificuldade de manter a ereção ou ejaculação precoce, também pode enxergar o sexo como uma grande frustração a ser evitada.
Agora fico me perguntando o que exatamente os respondentes da pesquisa entendem como baixa libido. Sei lá, eles acham que não pensar/fazer sexo todos os dias é um problema? Quero dizer: qual o tamanho da expectativa e da cobrança que se impõem? Esperam continuar com tesão de transar três vezes por dia com a namorada, como no início do relacionamento? Essa queixa tem a ver com as duas últimas semanas ou vem acontecendo nos últimos seis meses? Nesse último caso, melhor marcar consulta com um urologista pra fazer um check up – e talvez com um psicólogo porque a causa pode ser emocional.
CHARNELBLOG-08-2016