VIRTUAL
CONTO
Ana apressou-se em sair do banho enquanto corria para atender ao celular. Ainda molhada e toda nua, escorrendo água pelo piso do quarto, ia se enxugando como podia. Primeiro secou a face direita, sobretudo a orelha, depois as mãos. Preparou-se rapidamente para atender a tão esperada ligação. Temia que ele desligasse por achá-la desinteressada, uma vez que andara se fazendo de difícil nas vezes anteriores. Mas agora era bem diferente, julgava que já havia feito o jogo suficiente e que era hora de entregar-se.
Atirando-se sobre a cama macia e cuidadosamente recoberta com um branco lençol, deitou seus pouco mais de trinta anos como se alguém a estivesse vendo, sensualmente comportada. O espelho da parede refletia suas belas curvas enquanto ela atendia ao telefone.
– Alô! – disse ela com voz suave, embora não escondendo uma ponta de ansiedade.
– Oi, Ana? Boa noite meu desejo! – respondeu a voz do outro lado.
Ana achou meio brega aquela forma de aproximação, riu por dentro, mas deixou-se levar pelo galanteio e devolveu com outra frase de efeito:
- Espero que o “gênio da lâmpada” não te conceda nenhum outro desejo além de mim!
Ele riu, achando-a espirituosa. Sentia que seus esforços e sua paciência tinham valido a pena. Afinal, há mais de seis meses vinha tentando aquela aproximação e, enfim, havia chegado o dia.
A conversa rolou divertida por um bom tempo. Então, ele ousou ser mais atrevido.
– Ana, você não imagina como estou agora. Sabe aquelas lagartixinhas que vivem subindo pelas paredes? Me sinto como uma daquelas.
Ela riu deixando entrever que havia entendido a situação. Também estava excitada, pois enquanto falava com ele deixava sua mão escorrer por entre suas pernas, acariciando-se levemente. Mas, preferiu fazer-se de desentendida.
– Como assim, subindo pelas paredes?
– Quer que eu te fale ou que eu te mostre? – replicou ele.
– Mostrar? Por acaso você tem foto sua subindo pelas paredes? – e riu desenfreadamente, numa gargalhada deliciosa e solta.
– Jeito de falar, Ana. Mas, se você quiser posso te mandar uma foto de meu corpo!
Ana fez uma pausa, suspirou profundamente e disse:
– Do seu corpo, como assim?
– Do meu corpo, Ana. Ou melhor, de uma parte dele. Afinal, não somos mais crianças, não é mesmo?
Novo silêncio. Novo suspiro.
– Ok, manda. Mas... se eu não gostar posso ser sincera?
– Claro, mas acho que não vou decepcionar. Vou mandar pelo “zap” ok?
Ana parecia uma adolescente se preparando para transar pela primeira vez. Seu coração estava disparado e uma sensação gostosa de tensão percorria todos os seus músculos. Até que a tal fotografia chegou. A demora em baixar o arquivo a fazia suar frio. E lá estava a visão de seus desejos carnais. Maior do que supunha. Sem curvas indesejáveis. Sem nada que pudesse gerar alguma forma de descontentamento. Parecia ter sido feito a pincel.
– Afinal, gostou ou não? – perguntou ele impaciente.
– Como não gostar da perfeição?
Ele sorriu consigo mesmo, orgulhoso por ser bem-dotado.
– Todo seu! – completou em voz que denotava uma excitação incontida.
– Mas também quero ver uma foto sua. Mas não do seu corpo e sim do seu rosto. Quero ver seus olhos e sua boca. Sentir como fica quando se deixa excitar. – pediu a ela com uma ternura encantadora. Deixava transparecer que o sexo seria o complemento perfeito para uma relação que tinha tudo para dar certo.
– Peraí! – e enviou, algum tempo depois, uma foto que deixaria o mais frio dos homens sem ação e boquiaberto de encantamento. Os olhos e a boca brilhavam e exprimiam todas as mais belas cenas que uma noite de sensual erotismo pudesse oferecer.
Então, resolveram fazer sexo um com o outro apenas pelo telefone, dizendo palavras de estímulo e pedindo para que fossem expressos os sentimentos experimentados. Sussurros... Palavras incompreensíveis... Gemidos... E, por fim, orgasmos simultâneos.
Meia hora depois a campainha da porta do apartamento de Ana soou como se fosse Tom vindo em busca de Helô nos acordes de um violão ressoando em algum bar de Ipanema.
©Leon Aimant-2015 leonaimant@gmail.com
-CHARNELBLOG-